quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Diário da Dilma: Malandra é a vaca que já nasce malhada para não fazer academia

PUBLICADO NA EDIÇÃO DE OUTUBRO DA REVISTA PIAUÍ
1º de setembro ─ O que posso fazer se a educação pública no Brasil é essa desgraceira sem fim? Professor nenhum me ensinou a diferença entre “por que” e “porque”. Daí vem a imprensa me chamar de burronilda só porque/por que escrevi errado no bilhetinho. Eles acham o quê? Que posso ligar para o professor Antonio Candido toda vez que estiver com dúvida? Da minha caligrafia, nem um pio. Tão caprichadinha, tão esmerada. 2 de setembro ─ Como diria o Zózimo, e esse FHC, hein? Um lobo em pele de tucano. Se fez todo de cavalheiro com aquele charme untuoso dele e agora me dá uma mordida dessas. Ele sabe muito bem que o bobo do Lula sobe nas tamancas toda vez que ele abre a boca. Já disse para o Lula resolver isso na análise. O fato é que quem paga o pato sou eu. Fui obrigada a dar uma resposta, menos mal que não cometi nenhum erro de ortografia. Esse episódio todo é muito triste. Apesar de tudo, aquele raposão do FHC ainda tem o seu encanto. Ele nunca deixou de me chamar de presidenta. Ah, poder, és mesmo solitário. 3 de setembro ─ Pedi para a Ana de Hollanda fazer a primeira coisa útil da gestão dela: convencer o Chico a apoiar o Haddad. O bicho é pesado. Se até eu já ganhei uma eleição em cima do Serra! 4 de setembro ─ Gabrielzinho chegou. Veio passar o feriado com a vovó, veio? Veio passá? Qué bincá? Que pitchuco! E ainda dizem que não pode haver Rousseff fofo. 5 de setembro ─ Vinte minutos a mais de esteira esse mês. Já sinto a cintura mais afilada. Soube que a Cristina K. anda esquiando na Patagônia. Conheço a bisca: quer chegar à reunião da ONU com as pernocas em dia. Nem por nada Dilminha será desbancada. Vou desembarcar em Nova York assim meio etérea, uma sílfide tropical. Estou pensando em tecidos de voile, sempre em tons pastéis. Ousarei deixar os ombros de fora? O vestido da Michelle na convenção não me sai da cabeça. 6 de setembro ─ Cáspite! Chegou a conta de luz. Mamãe não para de usar o microondas, eu tenho exagerado um pouco no secador de cabelo e essa esteira consome mais energia do que a CSN. Malandra é a vaca que já nasce malhada para não fazer academia. Agora, as tarifas são escorchantes mesmo, o que me deixa num dilema terrível. O Lobão é indemitível. 7 de setembro ─ Independência. Sei. Só vou acreditar no dia em que o Lula largar do meu pé, o PMDB parar de pedir cargo e mamãe me der um pouco de espaço vital. Dilminha needs personal space! Tem coisa mais jeca do que esse desfile? Parece uma quermesse. Não é à toa que a Ideli adora, ninguém casa com policial impunemente. E como venta em Brasília, meu Deus! O Kamura despejou duas caçambas de concreto para segurar o meu topete. Não sei como FHC fazia. Ele sempre teve um cabelo bem armado. 8 de setembro ─ “De noite, eu rondo a cidade/ a te procurar, sem te encontrar./ No meio de olhares, espio/ em todos os bares, Dilma, você não está.” Para de pensar nele, não faz bem. O homem está ocupado com a 11ª rodada do petróleo. 9 de setembro ─ Baixei as tarifas dos bancos, os juros do cartão de crédito e a conta de luz. Próximo passo: tirar mamãe do SPC. Quando a carroça anda é que as melancias se ajeitam. 10 de setembro ─ Indiquei o Teori Zavascki para a vaga do Peluso. Achei o nome gozado e o João Santana aprovou; segundo ele, minha única fragilidade é a percepção, injusta, de que não tenho senso de humor. Acontece que até o Álvaro Dias elogiou. Acho que fiz besteira. Até agora, nada de Chico Buarque no horário eleitoral do Haddad. Estou de olho, irmã, estou de olho. 11 de setembro ─ Lá no estrangeiro, há onze anos, dois aviões atacaram as Torres Gêmeas. Aqui, uma moça burlou a segurança para gritar que queria casar comigo. Somos ou não somos um país amável? Tive de nomear a Marta, não teve jeito! O Lula estava me deixando maluca. Além do quê, a Ana teve todas as chances do mundo. Em mais de dois anos de governo, ela não me conseguiu nem um mísero drinque com o irmão. A conclusão a que eu chego disso tudo é que São Paulo gosta mesmo é de um botox. Elegeu a Marta e agora quer o Russomanno… 12 de setembro ─ Que susto levei com o desmaio do Temer em Roma! Só me faltava essa! Depois me explicaram que ele andou mais de uma hora naquele calorão todo sem tirar o paletó. Vaidade, vaidade, teu nome é Michel. Tivesse colocado um chapeuzinho, pelo menos. Mas esconder aquela cabeleira? Nunca. Esse morre, mas não perde a pose. 13 de setembro ─ Recebi a visita do nadador paraolímpico Daniel Dias. Fui firme: ou ele e os coleguinhas se engajam para que as Paraolimpíadas de 2016 não sejam chamadas de “Paralimpíada”, ou cancelo tudo. 14 de setembro ─ Que rebu! A Ideli me acordou logo cedo, parecia que estava tendo uma hemoptise: “Sirigaita! Doidivanas! A rainha não merece! É o fim da monarquia! Blá-blá-blá!” Desde o primeiro dia que ela implica com a Kate. É inveja da silhueta e daqueles calcanhares bem torneados, finos. Eu fiquei com dó. A moça estava com o marido, num castelo tipo o de Caras, só que sem ninguém. Tinha direito à privacidade. Depois, ela é de outra geração e essas coisas são normais. Eu é que preciso me precaver. Convenci mamãe a interrompermos nossos banhos de sol na laje do Palácio. Vai que… 15 de setembro ─ Gente, que fuzuê é esse no Oriente Médio? A Gleisi diz que é tudo por causa de um filme sem graça que satiriza o Maomé. Imagina se o povo brasileiro reagisse assim a cada novo filme do Bruno Mazzeo… 16 de setembro ─ Lancei o Bolsa Medalha para ver se a gente desencanta nos Jogos Olímpicos. A Ideli, que é metida a espirituosa, pediu um Bolsa Chanel para as ministras. 18 de setembro ─ Minha Santa Rita do Coração Perpétuo, nem eu aguento mais Avenida Brasil! Que enrolação! Vou ter que falar com o marido da Gleisi e vamos rever a tal da regulamentação dos meios. Certa estava eu na juventude: “O povo não é bobo, fora Rede Globo!” Como se não bastasse o que fizeram com a Camila na novela das seis. Sei que o sobrenome é Pitanga, mas aquela cor não existe na natureza. Parece uma barra de chocolate amargo. 21 de setembro ─ Tadinho do Zé Dirceu. Mandei um bilhetinho para ele com uma frase que vovó adorava repetir: “Quem se faz de Redentor, sai crucificado.” Mandei em português, não em búlgaro. 22 de setembro ─ Chamei o Patriota e dei um tranco nele. Não quero saber daquele hotel Waldorf Astoria. Um palácio de ácaros! Entro e já começo a espirrar. Além disso, a comida é horrível! O marido de uma amiga minha, que é do mercado, me disse para ficar no St. Regis. É para lá que eu vou. E ainda quero ver se embarco sábado à noite e fujo para tomar um brunch no Balthazar. Delícia, delícia, delícia! 24 de setembro ─ Start spreading the news/ I am leaving today/ I want to be a part of it/ New York, New York!!! Amanhã me puseram no horário da tarde. Divino. Dá tempo de fazer o discurso e chispar para o Barneys. Quero ver uns fascinators e perguntar se eles já receberam o vestido da Michelle. 25 de setembro ─ Fiquei bem naqueles tons outonais. Disse lá as coisas que o Guido me mandou dizer e fui até a Macy’s comprar os presentes de mamãe. É mais barato que o Barneys e ela não percebe a diferença. Para a Ideli, eu levo um xampuzinho aqui do hotel mesmo.

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