segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Diário da Dilma: Quem não dança balalaica que cuide do samovar

PUBLICADO DA EDIÇÃO DE JANEIRO DA REVISTA PIAUÍ
Dilma é a figura de bege com um gorro na cabeça e um xale no pescoço 1º DE DEZEMBRO ─ Sentei ao lado do José Maria Marin no sorteio da Copa das Confederações. Não consegui tirar os olhos daquele acaju. Não sabia que aquilo era possível. O cozinheiro errou no sorteio. No sorteio! Nem para tirar a bolinha da cuia certa nós prestamos! Que são Pedro Canísio nos proteja em 2014. 2 DE DEZEMBRO ─ Nada de caças franceses, americanos ou suecos. Vou comprar esses aviões da Webjet que estão em promoção. 3 DE DEZEMBRO ─ Fui ao Maranhão inaugurar um porto e adivinha quem estava lá. Him! E ainda levou a filha governadora a tiracolo. Fizeram questão de me entregar a Ordem dos Timbiras, achei simpático. Como não dão ponto sem nó, já pedi para liberarem uns dois ou três cargos comissionados. Aprendi: quem mora em São Luís é ludovicense. Vou jogar na cara do Patriota. 4 DE DEZEMBRO ─Ideli ficou irritadíssima quando soube que a princesa está grávida. “É uma arrivista!”, gritava pelos corredores do Planalto, de dedo espetado no ar. Nem contra o caseiro do Palocci ela destilou tanto veneno. Nem dei trela, pois estou me sentindo avó de novo. Pedi para o Patriota mandar uma caixa de tamarindo para a Kate. É ótimo para enjoo de gravidez! Ele fez cara de pouco caso e eu tive de recorrer a um “Meu querido”. Ele disse que ia mandar. Quero ver! 5 DE DEZEMBRO ─ Gleisi me soprou que a tendência do verão é o cabelo quente: strawberry blonde e rose blonde. Imagina se o Palocci me daria uma informação dessas! Santa hora em que estourou aquele escândalo da consultoria. Apesar da friagem desse palácio, fiquei triste com a morte do Niemeyer. 6 DE DEZEMBRO ─ Facada pelas costas. Sei. De tantas que diz ter levado, se ainda está de pé é porque já deixou o gênero humano e entrou para a categoria dos queijos suíços. 7 DE DEZEMBRO ─ Depois de mais um Pibinho, tive vontade de mandar o Mantega de volta para a Itália. É sempre a mesma cantilena: “Mês que vem vamos bombar mais que a China.” Baita tró-ló-ló. Crescemos menos que o Peru! O Peru! E agora não dá nem para mandar embora. Aquela revista inglesa ─ como é o nome mesmo? ─ veio fazendo um estardalhaço, querendo ensinar o Pai-Nosso ao vigário. Terei de engolir o Guido mais um tempo em nome da soberania nacional. 8 DE DEZEMBRO ─ Vou ter uma conversa delicada com a Ideli. Sei que ela não estudou em colégio de freira, foi gorda, é de Santa Catarina, casada com um PM, mas precisa moderar a linguagem! De onde foi que ela tirou que dei “chapuletada” no Aécio?! Isso é linguagem? Eu lá sou mulher de dar chapuletada? Que coisa mais disgusting! Imagina minha cara diante do Patriota! 9 DE DEZEMBRO ─ Aquela Regina Casé é uma bola! Morri de rir com ela! Esqueci o nome do programa. A Helena me mandou uma cópia e achei ótimo. O horário é que é ruim. 10 DE DEZEMBRO ─ Eu aqui na Cidade Luz, em pleno Le Bristol, e tendo que almoçar com o Lula! O homem falou três horas seguidas! Até cochilei entre a salada e os queijos. Não pude nem dar uma chegadinha no Bon Marché, o magazine das elegantes, sem aquele monte de brasileiro das Galeries Lafayette. Na verdade, meu plano mesmo era dar um pulo no La Vallée, aquele outlet maravilhoso!! Queria comprar uma gravata para o Lobão e um casaco melhor, para levar para a Rússia. Fica para a próxima. Ai, que saia justa! Encontrei a Marisa Letícia! Só faltei perguntar receita de cuscuz paulista. Falei pelos cotovelos sobre o nada, fugindo do assunto. Senti que ela está uma arara! São Bernardo deve estar uma Síria. 11 DE DEZEMBRO ─ Aproveitei que o Lula largou do meu pé um instante e mandei comprar o último exemplar do Canard Enchaîné. O jornal continua engraçado, mas falem o que quiserem, nunca mais foi o mesmo desde que pararam de publicar o Diário de Carla Bruni. Que classe, que elegância! Somos muito parecidas, tanto assim que tirei dali minha inspiração. Menina, que sucesso eu fiz em Paris! Estava ótima, solta, firme, elegante! 12 DE DEZEMBRO ─ Ai que vontade de demitir o Lula. Isso a Economist (lembrei) não sugere! 13 de DEZEMBRO ─ A gente não tem sossego nem para viajar. Esse vai e vem dos royalties me encheu o pacová. Falei que ia vetar, vetei, mas se querem derrubar o veto, me diz, o que eu posso fazer? Ah, vão lamber sabão! Enquanto escrevo isso, o presidente da República é José Sarney. Os maias sabiam de tudo. (Os índios, não a família do livro.) 14 DE DEZEMBRO ─ Fiz 65 anos! Quem diria! Presidenta do Brasil, avó, festejando na Rússia meu aniversário. Confesso que senti um pouquinho de dor no peito pela falta dele. É uma pena que o Moreno não aguente tanto frio. Aliás, que friaca! A gente fica com aquele nariz vermelho, a orelha gelando… No túmulo do Lênin, me voltou tudo. De pé, ó vítimas da fome! / De pé, famélicos da terra! Me deu vontade de ir para Jersey e roubar o cofre do Maluf. O Putin é bem legal, apesar do que di-zem dele. Vamos ver se fechamos uma parceria. Ah, o comunismo é tão elegante! Que dificuldade colocar um gorro com esse cabelo armado. 15 DE DEZEMBRO ─ Para lavar a égua, anunciei 800 novos aeroportos de uma vez só. Em cada biboca do país vai ter um. A senhora mora em Ouricuri e quer ir para Bodocó? Pois não, basta tocar o jegue para o aeroporto no fim da rua. Quero ver alguém falar em caos aéreo. Como me disse o Vladimir, quem não dança balalaica que fique cuidando do samovar. 16 DE DEZEMBRO ─ Haddad me ligou para dizer que Maluf não tem nem nunca teve cofre em Jersey. 17 DE DEZEMBRO ─ Lembrete: não despedir o Patriota. As viagens estão melhorando. 18 DE DEZEMBRO ─ Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. O Marcos Valério abriu a boca de novo, o Freud reviveu das catacumbas, o fantasma do Celso Daniel está assombrando mais uma vez, annus horribilis, diria a rainha da Inglaterra. 19 DE DEZEMBRO ─ Finalmente! Soube que na terceira temporada de The Killing, Sarah Lund largou aquele suéter de matar! 21 DE DEZEMBRO ─ Vetei o Fim do Mundo. 23 DE DEZEMBRO ─ Em Paris, comprei uma bela água de colônia para o Lobão. Vamos ver se ele para de encharcar o rosto com Aqua Velva. Eu diria que é o único defeito dele, a imperfeição que o torna humano. 25 DE DEZEMBRO ─ Gabrielzinho ganhou presentes demais neste Natal: o Sarney lhe deu duas concessões de tevê, um pessoal louro mandou entregar três miniaturas de caça sueco e o Temer enviou um embrulhinho fofo com um emprego público vitalício dentro. Esse menino vai ficar muito mimado. Mas é tão bochechudinho! 29 DE DEZEMBRO ─ Impressionante como minhas manhãs rendem quando o Merval tira férias. Aquelas colunas me tomam 40 minutos. No mínimo. A casquinha do pão engorda tanto quanto o miolo! 30 DE DEZEMBRO ─ Mamãe e titia pensam que a história da Rose é novela. Como não gostam de Salve Jorge, transformaram o bafafá em seriado. Acompanham todos os jornais e ainda querem detalhes. Conto o mínimo possível porque minha tia é íntima da manicure, conta tudo para ela. 31 DE DEZEMBRO ─ Festa boa de Réveillon tem que tocar Tim Maia. Depois do segundo frozen de abacaxi, fico agitadíssima. Fux arrasou cantando Vale Tudo e Um Dia de Domingo. Só não engatou Acenda o Farol porque o Dirceu e o Rui Falcão apareceram de machadinha na mão e ele teve que sair pelos fundos.

Um comentário:

  1. Simplesmente ótimo!!! Adorei o diário do primeiro ao último dia. Excelente humor e as tiradas são muito pertinentes. Você assina a revista? Abraço.

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