quinta-feira, 21 de julho de 2011

A caravana da aleivosia

Ex-presidente é um cargo. Antes, recebia até os mesmos rendimentos do titular. Agora, e até o fim da vida, tem direito a servidores à disposição – oito, entre assessores, motoristas e seguranças –, além de veículos e combustível.
No exterior, é tratado pelo pessoal das embaixadas como se ainda ocupasse a cadeira. Portanto, se gasta dinheiro público, é lícito exigir que mantenha certa decência. Não é o que vem fazendo Luiz Inácio da Silva.
Desde 1º de janeiro, já faturou com palestras a empresas que ganharam demais durante seu governo, já se hospedou em instalações militares, enfim, foi o Lula de sempre.
Ninguém se espanta porque continua fazendo fora o que fez durante – apequenar os postos que ocupa. Na semana passada, esteve em Goiânia a praticar seu esporte predileto, falar besteira. As bobagens ditas no exercício da Presidência eram relevadas pela anestesia da popularidade e os disparates proferidos na planície têm a intenção de preservar os índices do Planalto.
No congresso que elegeu a nova diretoria da União Nacional dos Estudantes, Lula evitou frustrar expectativas e atentou o tempo inteiro contra os eleitos por ele para seus inimigos, a Língua Portuguesa, a moralidade, a opinião livre, a compostura do cargo.
A visita a Goiás para o convescote da UNE faz parte da Caravana Rolidei, reedição da Caravana da Cidadania, realizada pelo interior do país antes de ser presidente da República.
Ao chegar aos Estados, a primeira providência é invocar o terceiro turno. Quem não ajudou sua candidata é chamado à execração. Como se fosse errado negar apoio ao populismo, Lula mostrou que a economia não foi a única coisa estável nos últimos 17 anos – sua ignorância, também.
Teve tanto tempo para estudar e nada aprendeu, apenas passou oito anos fazendo curso de lulismo, lulês, lulogia, lulopatia, lulocracia.
No evento dos estudantes, ao custo de R$ 4 milhões de reais pagos pela Petrobras, Lula aproveitou para desancar os veículos de comunicação – justo ele, uma cria da liberdade de imprensa.
Nisso, regrediu. O apóstolo da mídia pró começou a caminhada de messias no jornalismo contra. Cresceu combatendo a ditadura nas mesmas páginas que hoje gostaria de tiranizar. Fez-se líder nos espaços atualmente chamados de golpistas por sua turma.
Os moços que o ouviam, alguns com meio século de idade e comemorando bodas de prata na militância estudantil profissional, saíram dali diretamente para a Marcha da Maconha, na qual predominavam cartazes pedindo “liberação de todas as drogas”.
Comparado a manietar a opinião, apologia aos entorpecentes é crime anão.
Lula ensinou aos jovens que vale tudo para se chegar ao e se perpetuar no poder. Vale desrespeitar a sucessora, que afrontou ao indicar ministros enrolados e voltar a Brasília pedindo que “não ceda a pressão das manchetes”, ou seja, não leia e não veja, não saiba o que ocorre na Esplanada, não exonere malfeitores, mesmo os pegos com as penas nos dentes.
Vale se macaquear de presidente e dizer que a União tem de perseguir os governadores da oposição. Para isso, vale usar o BNDES como arma, como salvar a companheirada falida, inclusive a da “proteína animal”, em vez de investir em setores estratégicos carentes de investimento, como o energético.
A Caravana Rolidei segue seu curso, açoitando o idioma, apedrejando a probidade, a meio milhão por palestra e 4 milhões por encontro. Nesse ritmo, vai sobrar pouca moral a ser achincalhada pela turba.
Resta à nação relevar os discursos para a figura de ex-presidente, atolada na aleivosia, não se confundir com isso que perambula pelo país.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)

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