sexta-feira, 18 de março de 2011

Sou a favor da Comissão da Verdade, sim — mas também os militantes de esquerda que cometeram crimes precisam depor

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, e o senador Paulo Paim (PT-RS), durante audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado
Amigos, eu não esperava concordar com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, um trapalhão que cansei de criticar desde os velhos tempos em que ele, como deputado, foi o relator da reforma constitucional de 1993 — revisão que a própria Carta de 1988 previa para ser obrigatoriamente feita 5 anos depois de entrar em vigor — a qual, por sua falta de habilidade, acabou dando em praticamente nada.
Mas fica difícil discordar de Jobim na questão da Comissão da Verdade, que o governo, desde o lulalato, quer instituir por lei para apurar — sem consequências criminais — e incorporar à história do país os crimes cometidos pela ditadura militar, e que foi uma vez mais defendida hoje pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (leia aqui).
Jobim, que chegou a ser contrário ao projeto, diz hoje que o aprova, desde que a comissão também apure os crimes praticados pelos grupos armados — guerrilheiros ou terroristas, conforme o caso e o ponto de vista — que combatiam o regime.
De minha parte, sempre fui contra a revogação da Lei da Anistia, de 1979, e defendi que se fizesse no Brasil algo semelhante à genial Comissão da Verdade e da Reconciliação da África do Sul — as pessoas confessavam detalhadamente seus crimes perante a comissão, pediam perdão às vítimas e suas famílias mas não eram punidas, os fatos ficavam incorporados a uma História que até então só era contada pelo regime racista que oprimia a maioria negra e o país seguiu para a frente, sendo há 20 anos a única democracia parlamentar digna deste nome na África.
O presidente da Comissão era um homem próximo à santidade, respeitado no mundo inteiro e Prêmio Nobel da Paz — o arcebispo anglicano negro Desmond Tutu.
Aqui não temos ninguém vivo próximo à santidade, nas acho que necessitamos de uma Comissão da Verdade. Só que, como o ministro Jobim, não vejo porque a lei não possa incluir que também os militantes de extrema esquerda que cometeram crimes, não raro bárbaros, e não foram punidos — porque não custa lembrar que muitos deles cumpriram pesadas penas de cadeia — também sejam chamados a testemunhar perante a Comissão.
Não dá para esclarecer os fatos históricos de um lado só.

Coluna do  Ricardo Setti

Um comentário:

  1. Concordo. O julgamento é próprio (de cada um), ninguem sai impune disso, portanto, a condençao é imprópria, e desnecessária, e a história, universal.

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